Alguém já me disse que “o suicídio não é querer morrer, é querer desaparecer”. Isso ameniza a dor da perda do meu amigo Nilson Amorim Matos, amigo de longas jornadas, depositário de muitas confidências. Hoje, ele resolveu saltar do oitavo andar de um prédio, como a querer voar para a eternidade.
Não consigo imaginá-lo tendo como decisão final abreviar a sua existência. Logo Nilson, que como professor na Universidade Federal do Maranhão, curso de Jornalismo, deu a todos os alunos aulas de resistência e de luta. Era um humanista que nos fazia acreditar na igualdade e fraternidade entre irmãos e entre povos. Avesso a conteúdos programáticos, na maioria das vezes largava o plano de aula para dar lições de vida.
Intelectual, tinha um pé na Universidade e outro no mundo, ajudando-nos a compreender e interpretar os fatos do quotidiano. Pouco atuou na mídia, mas fez Jornalismo como poucos, e muito repassou da sua experiência para seus discípulos. Bebia moderadamente, o que já nem fazia nos últimos anos. Mas era nas mesas de bar que reunia a turma para dar cursos de extensão sobre liberdade e inconformismo com este mundo cão. “Tenham cuidado com pratos feitos”, costumava alertar.
Nunca vi alguém com tantos planos e idéias inovadoras, dentro e fora do seu espectro profissional. Pouco realizava deles. Porém, se você os tomasse para executá-los, estava feito vida. A inconstância do seu coração de homem para com o sexo oposto sempre o acompanhou. Estava sempre à procura da felicidade, embora, muitas vezes, tenha me confessado que ela ainda não teria batido à sua porta, da forma como sonhara.
A dificuldade pela sobrevivência nossa e de nossos filhos terminou nos afastando da convivência diária. Por último, raramente nos encontrávamos. Falávamos pelas redes sociais. Seu texto pouco mudou, denotando que os ideais ainda se sustentavam. Mas percebíamos, eu e ele, que o glamour das grandes inquietações com a Humanidade, como na época da “Greve pela Meia Passagem”, já se esvaía com o tempo.
Um médico teria lhe informado, hoje pela manhã, que estaria com câncer e que precisaria se tratar. Imagino que Nilson convenceu a si mesmo de que não tinha disposição para encontrar a cura. E decidiu fugir da vida e da morte de uma maneira que só os suicidas acreditam. Isso faz sentido...
“O suicida, na verdade, não quer se matar , mas quer matar a sua dor”, disse-me certa vez Jorge Cury, em uma palestra. O professor Nilson Amorim Matos matou a sua dor. Que não foi de todo com ele. Deixou, em forma de saudade eterna, pedaços espalhados em centenas e centenas de corações, aos quais ele ajudou tanto a amolecer.
Deus te leve, Nilson, para onde tu fores merecedor.