Popularidade levou Lula a se achar invulnerável, diz biógrafo britânico do petista
Ao assumir a Presidência, Lula pode ter tido menos "pessoas que o desafiavam" ao seu redor do que tinha como líder sindical, afirma Bourne "Com uma personalidade dominante, sempre há o perigo de se cercar apenas de pessoas que digam sim. Acho que, no início do PT, havia vozes diferentes e pessoas que desafiavam Lula. Acho que, quando ele se tornou presidente, isso se tornou um problema. Talvez não tenha havido pessoas suficientes dizendo: 'Lula, você está cometendo um erro, precisa ir numa direção completamente diferente'." O diagnóstico acima é do acadêmico britânico Richard Bourne, autor do livro Lula of Brazil: The story so far ("Lula do Brasil: a história até agora", em tradução livre), que, em entrevista à BBC Brasil, expressou preocupação diante da primeira condenação do líder petista no âmbito da operação Lava Jato O biógrafo, que conviveu com Lula no final de seu primeiro mandato, não está convencido de que o petista tenha sido o chefe do esquema de corrupção na Petrobras, mas acredita que ele "não fez perguntas suficientes" sobre como o partido arrecadava os recursos de campanha e geria a estatal. Bourne tampouco embarca na tese alimentada pelo PT de ele é vítima de uma perseguição política por parte do Judiciário. Ele diz que o ex-presidente continua sendo alguém que "consegue iluminar um palanque", mas cuja popularidade pode ter contribuído para um sentimento de invulnerabilidade. Isso teria provocado em Lula tanto uma certa "tolerância à corrupção" quanto à ideia de que deve retornar ao poder em 2018. A candidatura do petista, no entanto, pode se tornar inviável caso a condenação seja confirmada em segunda instância. "Lula certamente é alguém vaidoso e isso piorou com o passar do tempo. Uma das piores coisas da morte de Marisa é que não há mais uma pessoa para desinflar um pouco essa vaidade e mostrar a ele o que ele deveria estar fazendo", reflete Bourne, que completa: "Ele deveria ter pensado melhor em outras maneiras de usar seu capital político em favor do país (após deixar o poder)."