“Quando a Purpurina não reluz”…
Presenciei, hoje pela manhã (19), o lançamento do livro do jornalista, professor universitário e produtor cultural Euclides Moreira Neto, na Biblioteca Pública Benedito Leite. Na mesma ocasião, foi lançado, “História para todos… Era uma vez a imaginação”, coletânea de historinhas voltada para o público infantil, de Neuton Barjona Lobão Filho, natural de Mirador. O autor é irmão da professora Nerine Lobão e do senador Edison Lobão.
Atenho-me ao primeiro, até porque, convidado, fiz um dos três prefácios do livro – os outros dois têm a assinatura do artista plástico Miguel Veiga e do imortal Sebastião Moreira Duarte. A obra é uma mistura de queixas de Euclides Moreira Neto em relação a insipientes atitudes tomadas pelo atual prefeito Edivaldo Holanda atinentes à política cultural de São Luís e de quase exaltação da administração municipal anterior, quando o autor foi presidente da Fundação Cultural de São Luís.
Não pelo livro em si fiz o prefácio. Muito mais pelo respeito que tenho ao professor Euclides pelo seu extenso e reconhecido trabalho de produção cultural em São Luís.
Vi que ele, apaixonado por tudo o que faz, mergulhou de cabeça no trabalho de ajudar João Castelo na área cultural. Da mesma forma como, na década passada, mudou-se para o Sacavém e de lá nunca saiu para ajudar a Favela do Samba a ganhar sucessivos títulos no carnaval de passarela.
Nessa dicotomia, não percebeu que também pouco pôde fazer pela cultura da Ilha enquanto gestor da área. Não por ele. O que Euclides fazia, Castelo desmanchava. Um exemplo só: organizava os eventos, e o prefeito não pagava as brincadeiras… Como em todos os setores, também na Cultura o rombo que Castelo deixou para o predecessor foi considerável.
Dito isso, entendo que o prejuízo causado por Edivaldo Júnior ao deslocar a verba da passarela carnavalesca para a Saúde, com o objetivo de reduzir o tamanho do caos deixado pelo antecessor, fica até pequeno. E esse foi o cerne da questão. Foi pela falta da tal passarela e dos cachês para os grupos carnavalescos que Euclides brigou, esgoelou-se e escreveu “Quando a purpurina não reluz”.
Não seja por isso. O atual presidente da Func, Francisco Gonçalves, mesmo avisando que a grana não será farta, já prometeu erguer a passarela e pagar os cachês dos atores carnavalescos. Para conferir maior pompa, prometeu que buscará parcerias na iniciativa privada, coisa que Euclides também defende no livro. É esperar pra ver acontecer…
Como enfatizei no prefácio, o livro vale como documento de um fato que gerou certa polêmica na Ilha, e pelo tamanho de quem o redigiu, embora inebriado de paixão. Veja, a seguir, a íntegra do prefácio 1 de José Machado
SEM PURPURINAS…
José Machado*
“Conheci Euclides Moreira Neto em 1976, quando eu e ele ingressamos no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão-UFMA. De Euclides, nós, seus colegas de turma, costumávamos dizer que ele encarava os estudos como quem bate ponto na fábrica. Queria, sempre, a qualquer custo, concluir com brevidade as suas tarefas.
“Sempre focado em objetivos e metas, Euclides é fascinado pelo trabalho e tudo o que faz na vida. Da nossa turma, foi o único a economizar o dinheiro do crédito educativo para comprar um Fusca, quando a maioria dos universitários usava boa parte dessa grana para gastar no “Bambu Bar”, do Sá Viana…
“Por onde passou – professor do Curso de Jornalismo e diretor do Departamento de Assuntos Culturais (DAC) da UFMA, assim como presidente da Fundação de Cultura do Município de São Luís (Func) -, deixou a marca da sua dedicação extrema. Não é exagero dizer que, como diretor do DAC, era responsável por mais da metade dos atos e fatos que geravam notícias positivas para a Universidade Federal.
“O tradicional Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, com 36 anos de realização e repercussão internacional, só deixou de ser realizado com entusiasmo, no Maranhão, produziu hiatos depois que Euclides deixou o DAC para assumir a FUNC. Movia céus e terra, mas terminava por levantando os recursos materiais e financeiros – junto a instituições públicas e privadas – para a realização do evento.
“A série de títulos, quase ininterrupta, de campeã do carnaval maranhense, conquistada pela escola Favela do Samba do Sacavém tem muito – e ponha intensidade nisso – da participação organizada e apaixonada que Euclides Moreira Neto implantou, ao longo do tempo, naquela agremiação.
“Portanto, é natural a inquietação, e até uma certa indignação de Euclides com a suspensão do certame de 2013 do carnaval maranhense de passarela. O recém-empossado prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior, alegou escassez de recursos para a montagem da estrutura necessária ao espetáculo momesco, no Anel Viário. Preferiu aplicar o pouco que tinha na área da Saúde…
“Com isso, todo um ano de trabalho dedicado à Favela do Samba se perdeu. Pois na escola, dona de um sistema de organização implantado por Euclides e outros carnavalescos dedicados , quando um carnaval termina, o do ano seguinte já está começando…
“Quis o autor registrar, através deste livro, esse momento político-momesco de São Luís do Maranhão, acreditando que não está só em suas teses e que delas comungam aliados do carnaval de passarela de São Luís. Da minha parte, faço como Voltaire: Posso, até, “discordar daquilo que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de o dizeres”…
“O texto de Euclides, balizado em quem viveu essa história por dentro dos fatos, apesar de algumas doses passionais, próprio de quem ama o que faz, vale como um depoimento “considerado” para a posteridade. E, por isso, aplaudo a iniciativa. Sem purpurinas…”
(As fotos são de Lauro Vasconcelos)
