(Da página de Daniel Mendes* no Facebook)
Da entrevista do governador eleito, Flávio Dino, ao programa Roda Viva, recolho algumas observações:
Evidente por si o preparo intelectual do entrevistado, que contrasta, quase como uma ofensa, com o quadro de Marca de Fantasia que temos hoje no poder estadual.
Descontada uma mal disfarçada boa vontade dos entrevistadores, que ajudou bastante, o futuro governador saiu-se muito bem em quase todas as respostas, exceção feita à maneira um tanto blasé como pontuou suas convicções comunistas. A narrativa idílica, de que a população dos países comunistas resolveu deliberar outros caminhos, não tem sustentação histórica e encobre a penosa e sangrenta transição dos regimes comunistas. Sem falar no golpe de morte que representa na doutrina, ainda hoje petrificada em algumas alas do PCdoB. Deu pro gasto a resposta, mas foi um ponto muito fora da curva do gume da inteligência das demais.
O mais importante, penso, foi a demarcação de alguns pontos que assinalam, a meu ver, o propósito maior da construção de fala do entrevistado.
Flávio Dino assumirá o mandato no momento em que chega ao ponto máximo de tensão o modelo político de financiamento de campanhas associado à lógica da governança de coalizão. O Petrolão, que deve desembocar em uma espécie de Mani Pulite tropical, como lembrou o entrevistado, será o pano de fundo de todo esse maremoto. A pulverização de partidos, o “financiamento da democracia”, como assinalou o governador eleito, todo esse quadro conduz a um cenário de crise que só agravará o fenômeno da judicialização da política. É inescapável que o enfrentamento dessa crise não se dará dentro da narrativa moral, como quer certa imprensa, ou na narrativa partidária, como quer a oposição. O buraco é muito mais abaixo do que o pré-sal.
Nesse sentido terá que haver uma repactuação dos poderes para se chegar a uma negociação mínima de consenso visando uma reforma política que aplaque o sentimento que viceja na opinião pública, de completo divórcio entre representantes e representados.
Nesse pacto será necessário construir pontes entre o judiciário, o legislativo e o executivo. Aí é que entra a posição privilegiada do novo governador maranhense que, com trânsito biográfico nas três esferas, crescerá para se tornar uma voz nacional com a rapidez com que cresce a maré do Bacanga. Colabora também o fato dele não pertencer a um dos dois partidos protagonistas do poder, e, ironia da história, ter tido apoio oficial do PSDB e “clandestino” do PT governista.
Isso lhe confere um poder de trânsito político e institucional que nenhum mandatário da nova geração ombreará. Algumas arestas de pequena monta também foram limadas na entrevista, exemplo maior foi a defesa da honra pessoal da presidente Dilma. Faltava o “terceiro lado da moeda”, que é a credibilidade junto à “opinião publicada”, ou seja, o meio jornalístico. Essa foi a senha que o Roda Viva ofereceu, ao revelar que o eleito pelo povo do Maranhão tem mais a relatar ao país do que as irritantes vicissitudes da paróquia. Mais exposição virá nas próximas semanas, a assinalar a posição que o Maranhão irá ocupar na nova geografia do poder.

Torço para que esse cenário desabroche em frutos para o eleitorado que tem o maior crédito, nunca pago, com os detentores do poder nacional.
* Daniel Mendes é jornalista, marqueteiro, redator publicitário e analista de pesquisas de opinião pública.
